Em 23 de janeiro de 1808, após quase dois meses de viagem, a Corte portuguesa, às cinco horas da tarde, pós os pés na cidade de Salvador. Desceram na Cidade Baixa, mais precisamente no bairro da Ribeira. Dom Pedro, seus pais e irmãos, desceram da nau capitânia e, aos gritos de Viva o Príncipe Regente, entraram nas carruagens para este fim preparadas e seguiram pela rua da Preguiça, subiram a ladeira da Gameleira e chegaram ao largo do Teatro. Ali, entre alas de soldados engalanados, desceram das carruagens e seguiram a pé, debaixo de um paleo de seda, até a igreja da Se'.
O povo os acompanhou, dando demonstrações de júbilo, ovacionando sem cessar.
Os sinos das igrejas repicaram, foguetes estouravam, subindo para o céu.
O cortejo entrou na Catedral. Cantaram o Te Deum, agradecendo o bom término da viagem.
Os portugueses ficaram felizes com a acolhida e, de certo modo se lembraram de Lisboa pois, como a capital portuguesa, a antiga capital do Brasil foi construída sob diversos níveis, possuindo, portanto, muitas ladeiras.
A população, todavia, era muito diferente. Segundo o Conde da Ponte, naquela época Salvador possuía mais de vinte e cinco mil e quinhentos pretos, quatorze mil e duzentos brancos e onze mil, trezentos e cinquenta pardos. Observaram que, apesar de tudo, os escravos eram mais livres e mais considerados do que nas outras colônias europeias. Os visitantes mais viajados chegaram a comentar que na Bahia "o escravo era menos surrado do que na Martinica".
Os dias seguintes foram dedicados à adaptação. O que mais causou impacto foi a alimentação, considerada como da "pior qualidade", pois consistia de farinha de mandioca, carne seca e banana. Para variar, de vez em quando, algumas espigas de milho cozido.
Causaram espanto “os bandos de homens chegando diariamente da costa da África, esquálidos e abatidos, com um simples pano de algodão como vestimenta".
As damas da Corte comentavam que o que mais causou espécie a todas elas foi a maneira com que as mestiças movimentavam as nádegas.
O Príncipe Regente, ao ouvir tal comentário, revelou que o que mais lhe causou espanto foi o episódio seguinte: Antes da esquadra se aproximar da Bahia, a família real encontrou um navio que rumava para a Europa. D. João, curioso por saber como seria recebido, perguntou ao capitão se na Bahia já sabiam que ele aportaria na cidade.
O capitão, prontamente respondeu:
--- Sim, eles sabem. Estão preparando a cadeia para acolher Vossa Majestade!
O Príncipe Regente ficou abismado, perguntando a si mesmo se, depois de tanto sofrimento, os baianos iriam encarcera-lo?
Quem esclareceu o mal entendido foi Dom Fernando José de Portugal e Castro, ex Vice-Rei do Brasil. Ele explicou que por certo o atual Vice-Rei, o Conde dos Arcos mandou evacuar a antiga cadeia, localizada ao lado do Palácio dos Vice-Reis, a fim de, preparando-a, oferecer mais espaço para acomodar a comitiva.
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