No final de agosto de 1497 a frota de Vasco da Gama, seguindo a recomendação de Bartolomeu Dias, afastou-se da costa africana e se lançou no alto mar.
A viagem, a partir desse momento, tornou-se difícil.
A atenção de todos se concentrou nos apitos dos mestres e nas batidas do tambor que ritmavam as manobras.
No proteger-se das guinadas, das ondas gigantescas que ultrapassavam a amurada, dos golpes distribuídos por cordas, cabos e vergas. e até das vigas baixas dos portões. Quando os dias e as noites de tornaram iguais, parecia que um torpor tomava conta de tudo.
Era o momento em que os cascos dos navios se tocavam, em que os viveres escorregavam da nau de abastecimento e caiam no mar.
Era o momento em que se avaliava os estragos.
O calor era insuportável e as bebidas tinham de ser severamente racionadas.
Os tonéis vazios eram reabastecidos com a água do mar, para que os navios não perdessem o equilíbrio, embora a água doce que depois fosse colocada neles ficasse com gosto tão desagradável que os homens só podiam bebe-la tapando o nariz.
Nos porões, os gatos miavam, o azeite ficava rançoso, o mel fermentava e os vermes pululavam nos tonéis de favas.
Um cheiro de podre emanava das caixas de carne salgada, a única que restava para ser consumida, pois as galinhas e as cabras já tinham sido sacrificadas.
Alguns tripulantes tinham morrido de febres e disenteria, e seus corpos foram jogados ao mar.
Todos tinham certeza que o pior estava por vir.
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